E agora, senhor Emelianenko?

O russo Fedor Emelianenko é sem dúvida um dos melhores lutadores de todos os tempos. Foi com seu jeitão simples e caladão, aliado a sua ferocidade e grande técnica dentro do ringue, que Fedor tornou-se uma lenda viva do MMA, com legiões de fãs ao redor do mundo. Mas as coisas não andam bem para o russo, que vive o pior momento de sua carreira. 

Analisando a carreira do russo, podemos notar dois períodos distintos. O primeiro, as lutas de Fedor dentro de ringues. Cercado por quatro cordas, Emelianenko foi brilhante, vencendo lutas praticamente perdidas, batendo adversários duríssimos como Mirko Cro Cop, Rodrigo Minotauro e Mark Coleman, além de criar uma invencibilidade de dez anos. A sua única derrota até então era por interrupção médica, devido a um corte em seu supercílio em uma luta de 17 segundos. Muitos nem sequer consideram essa luta contra Tsuyoshi Kohsaka uma derrota, mas sim uma luta sem resultado. Foi devido a esses resultados fantásticos, que Fedor deixou o mundo boquiaberto quando entrou em sua segunda fase. A fase das jaulas.

Fedor venceu Cro Cop quando ambos estavam em sua melhor fase.

 Os problemas

Os problemas começaram quando Fedor fez sua última luta contra Andrei Arlovski. Depois de uma forte pressão do barbudão Arlovski, Fedor conseguiu um nocaute milagroso, quando acertou um cruzado de direita no queixo do adversário, enquanto esse o pressionava contra as cordas. Em seguida Fedor fez sua estréia nas grades contra o limitadíssimo lutador americano Brett Rogers, em novembro de 2009. Muitos esperavam uma vitória fácil de Emelianenko, considerando a baixa qualidade técnica do americano, mesmo esse último estando invicto, mas o que o mundo viu foi bem diferente.

Fedor teve problemas no combate. Conseguiu dominar a maior parte do primeiro round, mas Rogers também conseguiu escapar de três tentativas de submissão do russo, além de conseguir prendê-lo no clinch contra as grades com certa facilidade. Rogers foi o primeiro a levar Fedor Emelianenko para o segundo round desde 2006. No segundo round, depois de uma rápida luta em pé, Fedor tentou levar Rogers para as grades, que rapidamente inverteu e deixou o russo preso. Fedor conseguiu soltar-se e bombardeou Rogers com uma série de socos, mas o americano rapidamente prendeu Fedor contra a grade mais uma vez. Brett Rogers então cometeu um erro crasso, talvez por excesso de confiança. Ele soltou o clinch e recuou até o centro da jaula, dando espaço para o russo voltar com a trocação. Não deu outra. Fedor acertou uma pedrada com a mão direita e nocauteou Rogers já no primeiro ataque. 

Fedor passou por dificuldades contra Rogers.

Em seguid aFedor enfrentou Fabrício Werdum. Depois de derrubar o brasileiro com um sequência de socos com 30 segundos de combate, Werdum caiu na guarda e encaixou um triângulo em Fedor. Rapidamente o russo conseguiu se soltar, mas Werdum conseguiu girar e encaixar outro triângulo. O russo conseguiu resistir por quase um minuto, até bater e perder por submissão. Werdum era o primeiro homem a derrotar Fedor de fato e o mundo das lutas ficou embasbacado.

Werdum finalizando Fedor.

A luta seguinte era válida pelo GP dos pesos pesados do Strikeforce. O adversário de Fedor era o também brasileiro Antônio "Pezão" Silva. Qualquer um que lutou contra Fedor, entrou como azarão, mas poucos foram tão substimados como Pezão. O brasileiro não possuia um cartel tão respeitado quanto o de Fedor e da maioria de seus antigos adversários, mas Pezão fez o que ninguém havia feito: ele surrou Fedor Emelianenko. O paraíbano dominou o combate em pé, no chão e principalmente nas grades, aonde anulou completamente o jogo do russo. Pezão castigou Fedor ferozmente no ground and pound, deixando o rosto do russo irreconhecível. Depois de dois rounds, os médicos resolveram interromper o combate devido a gravidade dos ferimentos de Fedor. Pezão comemorou como nunca e ajoelhou-se, agradecendo a lenda pelo combate. Por outro lado, Emelianenko ficou tão decepcionado, que falou que aquela havia sido sua última luta e ele iria se aposentar.

Pezão massacrou Fedor.

O assunto da aposentadoria não durou muito e o russo iria lutar novamente. Dessa vez quem enfrentaria Fedor era um lutador tão respeitado quanto ele e outra lenda do esporte. O americano Dan Henderson havia acabado de se tornar campeão dos meio pesados e não se importou em subir de categoria para enfrentar o russo. Veja como foi o combate:

Houve várias reclamçaões sobre o desfecho do combate, muitos afirmando que Fedor não foi nocauteado e etcéteras. Contudo, não há como negar que Hendo foi dominante em boa parte do combate, principalmente no clinch, quando prendeu Fedor contra a grade. Agora Hendo enfrentará Maurício Shogun nesse sábado, no UFC 139, enquanto Fedor tem luta marcada para domingo contra o americano Jeff Monson.

O que Fedor tem feito?

É evidente que Fedor não acompanhou a evolução do esporte, porque por mais que alguns fãs digam que o PRIDE era mais competitivo e os lutadores mais completos, não tem como negar que os lutadores de hoje são muito mais preparados do que alguns anos atrás. Não há mais espaço para ringues dentro do MMA, tudo foi substituido pelas jaulas, que deixam o combate muito mais disputado e intenso. O clinch tornou-se uma das armas mais poderosas dentro de uma luta, assim como combater na grade virou uma bela estratégia, principalmente para os wrestlers. Fedor estava acostumado aos ringues, quando a luta era interrompida e recomeçada quando chegava as cordas. Praticamente não existia clinch. Além disso, Emelianenko ficou quase uma década treinando apenas na Rússia com os mesmos treinadores. Nada novo surgiu no seu jogo, o que explica muito a sua má fase. 

Fedor ao lado do holandês Ernesto Hoost.

Para enfrentar Dan Henderson, Fedor tentou melhorar e saiu da Rússia para treinar com um dos maiores nomes do kickboxing, Ernesto Hoost, mesmo asism o russo limitou-se a Europa. E foi treinar com um striker para enfrentar um grande wrestler. Não foi a melhor maneira de melhorar o jogo de grades.

O que Fedor deveria ter feito?

O fato de Fedor ter feito seu treinamento para enfrentar Monson inteiramente na Rússia, assim como a escolha do adversário, abre perguntas sobre as intenções do russo: será que Fedor quer mesmo voltar a lutar em alto nível? Os melhores centros de treinamento na atualidade são os Estados Unidos seguidos pelo Brasil. É essencial saber lutar nas grades, seja para prender o adversário nelas ou simplesmente escapar da situação. Mas Fedor não buscou aprender isso, como ficou provado em suas últimas quatro lutas. Ao invés de procurar garndes treinadores que fizessem jus ao garnde lutador que ele é, o russo preferiu a comodidade de sua terra natal. Um erro que lhe deu três derrotas seguidas. 

O que esperar?

Jeff Monson é um lutador veterano, com 55 lutas, 43 vitórias e doze derrotas. O ponto forte do americano é a luta no chão, devido ao seu treinamento de wrestler e por ser faixa preta em jiu-jitsu. Contudo, Monson nunca venceu grandes lutadores em sua carreira. Os adversários de maior calibre que venceu, foram o limitado mas com mão de pedra Sergei Kharitonov e o gordinho Roy Nelson. Jeff já teve oportunidade de lutar pelo cinturão dos pesos pesados do UFC, mas isso foi no momento mais sombrio da categoria no evento. Acabou perdendo para o gigante Tim Sylvia, em uma luta bizarra. Mas bizarra por que? Jeff Monson é muito baixo para os pesos pesados, com apenas 1,75m de altura. 

Mesmo com a carreira brilhante, Fedor Emelianenko está em uma péssima fase. A escolha de Jeff Monson como seu adversário, um lutador menor, com reputação e técnica mediana, além de seu treino cômodo na Mãe Rússia, indicam que Fedor minimizou ao máximo as suas chances de derrota. Isso pode ser uma alavanca para voltar a procurar adversários fortes ou apenas uma desculpa para se aposentar com vitória. Isso só iremos saber depois da luta. 

Aposto na vitória de Fedor, mas no MMA tudo pode acontecer. Mas uma coisa podem ter certeza: a luta será em um ringue, cercado pelas quatro cordas em que o russo fez a sua carreira.

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