UFC na Globo: Ver ou não ver?

Mesmo com grandes lutadores brasileiros como Rodrigo Minotauro, Maurício Shogun, Anderson SIlva, Vitor Belfort e Wanderlei Silva, o MMA nunca teve muita força no Brasil. O esporte sempre foi considerado violento demais e marginalizado em terras tupiniquins. É uma situação irônica, já que além de bons lutadores, o Brasil participou ativamente dos primórdios do esporte, desde os "duelos de garagem" de Hélio Gracie, o Brazillian Jiu-Jitsu, a criação do UFC e consagração de Royce, a mescla de artes marciais de Marco Ruas e muito mais. 

O preconceito ao esporte em seu início é compreensível. Quando o MMA ainda não possuia esse nome e era conhecido como Vale Tudo, quase não existiam regras. Os lutadores não usavam luvas, podiam puxar o cabelo, golpear a nuca e os genitais. Valia praticamente tudo. Com a pressão de políticos, lutadores e comissões atléticas, o Vale Tudo começou a tornar-se mais profissional com a criação de várias regras. Hoje o termo Vale Tudo não tem mais força, porque vários golpes são proibidos: golpear a coluna ou a nuca, golpear os genitais, morder, agarrar o cabelo ou o calção do adversário, enfiar o dedo no olho ou em qualquer orifício ou corte, dar cabeçadas e muito mais. Os lutadores fazem baterias de exames antes e depois dos combates, tem médicos a disposição do lado de fora do ringue, que podem parar a luta caso julguem perigoso ao atleta continuar. Hoje o MMA é um esporte profissional. 

Mesmo com a profissionalização, o esporte ainda não havia caído na graça da nação verde e amarela. Ganhou muitos fãs, isso é verdade, graças ao sucesso de lutadores brasileiros no Japão, no extinto PRIDE. Ganhou muitos apreciadores com a explosão do UFC nos Estados Unidos, hoje o maior evento de MMA do mundo. O UFC foi criado por Rorion Gracie nos anos 90, buscando saber qual era a arte marcial mais eficaz. O torneio chocou o público por não possuir quase nenhuma regra, o que levou o brasileiro a vender a marca por 2 milhões de dólares. A criação de regras e o ótimo gerenciamento dos novos donos, a Zuffa, levou o UFC a crescer, tornar-se o maior do mundo e valer quase 3 bilhões de dólares hoje.

Sempre existiram pequenas promoções de MMA por aqui, mas nenhuma teve força suficiente para popularizar o esporte, por isso o crescimento do UFC que trouxe de volta o MMA ao seu país de origem. O divisor de águas foi a luta entre Anderson Silva e Vitor Belfort. A luta ganhou notoriedade surpreendente. Depois disso veio o UFC Rio, transmitido em rede aberta pela RedeTV, chegando a ocupar o primeiro lugar de audiência no país, mostrando que o MMA havia chegado para ficar. 

Esse era o sonho dos fãs do esporte: ver o MMA ganhando destaque com o público nacional. A chance do esporte, mesmo tendo ainda muitos opositores, parar de ser marginalizado, desvalorizado e considerado violento demais. Com o sucesso do evento no Rio de Janeiro, começou a briga das emissoras de TV pelo direito de transmissão do evento. Depois de uma disputa quente e com muitas reviravoltas, a maior e mais rica emissora do país levou a melhor. É claro que é a Rede Globo.

Agora vem a questão principal: ver ou não ver o UFC na Globo? A emissora sempre teve o péssimo hábito de colocar grandes eventos na geladeira, mas dessa vez resolveu trasnmitir o UFC. Não tem como negar que por mais que a RedeTV estivesse fazendo um bom trabalho, ela nunca conseguiria exibir o UFC para tantas pessoas quanto a Globo. O poder de alcance da emissora é enorme. Para ter uma idéia, quando o UFC Rio alcançou o primeiro lugar de audiência durante a luta principal, até então o líder de público era o Zorra Total, um programa completamente estúpido, pelo menos no meu humor. Por que Zorra Total, um programa imbecil como é, disputou pau a pau a audiência com o UFC? Simplesmente pelo fato dele ser exibido pela Globo. O povo brasileiro, você ame ou odeie, está habituado a emissora global e isso não tem como mudar.

Fiquei preocupado com a possibilidade do UFC ficar na gaveta, mas conhecendo a agressividade do presidente do evento, Dana White, logo comecei a esfriar a cabeça. O careca pode falar muita besteira, mas não tem como negar que ele é um ótimo homem de negócios e não fecharia acordo com alguém que não fosse exibir seu evento. O UFC não é exibido em 170 países a toa. A Globo vai exibir o evento na noite de sábado para domingo, para um público enorme, não tenham dúvidas.

Mas depois da notícia que a Globo exibiria o UFC, algumas coisas começaram a me chamar a atenção. A oposição de muitos fãs do esporte foi grande. Quando o UFC Rio foi exibido na RedeTV, a única coisa que se via nas redes sociais, fóruns e na boca do povo era que a Globo faria uma transmissão melhor, por ter mais experiência, e alcançaria um público bem mais amplo. Hoje você vê justamente o contrário, fão dizendo que o UFC deveria ter continuado na RedeTV. Por que? Vejo pessoas dizendo que não vão assistir o UFC justamente porque virou modinha, porque a Globo é inescrupulosa e o Galvão Bueno infelizmente irá narrar. Eu me pergunto: o que aconteceu com vocês, fãs de MMA? Comeram merda? Bateram a cabeça?

Nunca o UFC teria tanto público como terá na transmissão da Globo. Não tem como negar isso. Ela é uma empresa inescrupulosa e manipuladora? Lógico que é! É muito pior do que a gente pode imaginar, mas querendo ou não, é ela que tem o público. O Galvão Bueno é um mala? Mas é um baita mala sem alça, mas é ele que narra os eventos mais importantes da Globo, como a Fórmula 1 e os jogos da seleção. Agora dizer que o esporte virou modinha? Pelo amor de Deus! Aonde está o espiríto de guerreiro dos fãs, lutando para que seu esporte seja valorizado? Agora dizer que virou modinha? Eu sinto vergonha quando leio algo assim. "Modinha". Teve gente dizendo que a Globo já começou matando o evento porque vai exibir apenas uma luta. Ah é! Caso vocês não saibam ou tiveram preguiça de se informar,  a Globo adotou o mesmo modelo da FOX, a emissora de TV americana que vai exibir o UFC. Que irá exibir apenas a luta principal, assim como a Globo.

Mais do que nunca o MMA precisa dos seus fãs. Não é fazendo birra e chororô que vamos conseguir popularizar o esporte. O que a Globo quer? Audiência. Por que? Porque audiência dá dinheiro. E não é só a Globo, toda a emissora pensa nisso. O UFC vai para a geladeira se ele não tiver audiência, porque aí não vai dar dinheiro. "Então você está pedindo para todo mundo assistir o UFC na Globo?" Sim, é isso que estou dizendo. Muita gente não gosta da emissora, inclusive eu, mas não vou morrer em sintonizar ela por uma hora apenas para assistir a luta. Vai ser duro aguentar o Galvão Bueno? Vai, mas eu já aguento o infeliz sempre que assisto a Fórmula 1.

Chega de criancice, finalmente o esporte que gostamos tanto vai chegar para o Brasil inteiro. Não pense que isso é uma defesa da Globo, é apenas a defesa do esporte por um verdadeiro fã de MMA. Esse era o sonho de muitos, não é agora que vamos estragar isso.

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