Até quando haverá esporte no UFC?

Esse post é uma discussão se MMA é ou não é esporte? Caso essa pergunta passou pela sua cabeça, saiba com antecedência que a resposta é não. Pra mim o MMA é um esporte sim, da mesma maneira que qualquer outro, mesmo que algumas pessoas discordem. A pauta em questão é a seguinte: será que o UFC ainda pensa dessa maneira? Será que o MMA para eles continua sendo um esporte de combate ou passou a ser apenas um negócio? E o mais importante de tudo: o que os fãs querem ver? Continue Lendo, veja meus argumentos e forme a sua opinião.

Antes de ler esse post (ou depois, como preferir), seria interessante que você desse uma olhada em algumas postagens anteriores, que não falam diretamente desse assunto, mas que contém assuntos relacionados a esse post e que facilitarão o meu ponto de vista. Aqui está a lista:

Algumas questões sobre doping

UFC 148: o antes, durante e depois de Anderson Silva

Shogun fora dos trilhos

UFC 151 cancelado: simplesmente uma catástrofe

Lições a serem aprendidas com o UFC 151

O desprezo as categorias mais leves


O que me inspirou a realizar essa discussão, foi a notícia de que Jon Jones e Chael Sonnen serão os próximos técnicos do TUF, ou seja, os dois irão se enfrentar ao final do programa, depois de cada um treinar sua equipe. Como fã do esporte eu fiquei puto da vida de 20 maneiras diferentes ao ver essa notícia, porque pra mim é uma luta que não faz sentido algum. Você pode estar pensando que Jon Jones recusou-se a enfrentar Sonnen, e como o próprio Jones disse, quer passar isso a limpo. Pra mim continua não fazendo sentido um cara lutar pelo cinturão, depois de vir de uma derrota por nocaute técnico para o campeão da categoria de baixo. É justo com os outros lutadores, que Chael Sonnen ganhe uma chance pelo cinturão depois de perder na luta passada, que também valeu cinturão? Pra mim não é nada justo e eu não quero ver essa luta.

Jon Jones e Chael Sonnen serão técnicos do TUF 17

Chael Sonnen não ganhou essa chance por mérito, bons resultados e habilidade. Ele ganhou simplesmente na lábia e na sua popularidade. E é isso que me preocupa. O começo desse atrito entre Sonnen e Jones, o UFC 151, é uma prova que o esporte anda em baixa no UFC e o que anda em alta é apenas as vendas de PPV. Mesmo com bons lutadores no card, o evento teve de ser cancelado por não haver nenhum nome de grande destaque e pra mim isso é um tiro no pé que o UFC está dando. O evento está depositando o seu sucesso nas costas de poucos lutadores e abrindo a possibilidade de mais casos de cancelamento como o UFC 151 acontecerem. Com isso, o UFC está fazendo dinheiro apenas em marketing, falação e nomes famosos. O esporte está ficando de lado.

Eu gosto de ver o aquecimento para as lutas, com as entrevistas e coletivas de imprensa dos lutadores. Mas isso é secundário. Pra mim o mais importante é a ação dentro do ringue ou da jaula: eu quero ver o esporte, quero ver artes marciais! O resto é perfumaria. Mas a tendência dos fãs ao redor do mundo, parece estar em uma posição contrária à minha.

Joseph Benavidez e Demetrious Johnson fizeram uma grande luta, mesmo assim foram vaiados por fãs babacas.

São poucos lutadores no UFC que vendem grandes números de PPV, que é uma das principais fontes de renda da organização. E nem sempre esses lutadores mais famosos, e que a maioria dos fãs gosta, são os melhores lutadores. Eu já cansei de ver combates extraordinários no UFC, principalmente nos cards preliminares, que os fãs sequer reagiram. Muitas vezes vaiaram lutas incríveis, pelo simples motivo de não haver um lutador famoso ali. Um belo exemplo recente disso, foi no UFC 152, logo após o fiasco do UFC 151. Joseph Benavidez e Demetrious Johnson fariam o combate principal para decidir o primeiro campeão dos moscas, mas logo sua luta caiu para a segunda em evidência da noite, com Jon Jones e Vitor Belfort no combate principal. A luta dos moscas foi ótima, mas o público imbecil vaiou Johnson e Benavidez, sem motivo algum. Isso de certa maneira mostra que o interesse dos fãs de MMA é ver dois caras populares lutando, não dois caras bons.

Mas para um lutador ser popular, ele precisa ser bom, não é? Nem sempre. Dois grandes exemplos de lutadores populares sem mérito para sua fama, são Chael Sonnen e Brock Lesnar. Todos nós brasileiros conhecemos o falastrão, que durante sua rivalidade com Anderson Silva promoveu um escarcéu de asneiras e xingamentos. Sonnen sabe falar besteira para promover uma luta, mas o que é Chael Sonnen tecnicamente? Ele sabe wrestling e só. Chael Sonnen não possui técnicas eficientes para aplicar ou defender submissões, como seu cartel prova para nós, com oito derrotas por submissão (quatro delas para brasileiros); também não tem poder de nocaute e não é muito bom na trocação. É um lutador que fez fama falando merda e surrando dopado um Anderson Silva todo quebrado. Fama em cima de uma única luta, porque até então a sua carreira foi medíocre, e muita falação.

Brock Lesnar, a máquina de fazer dinheiro.

Brock Lesnar é um caso diferente de Sonnen, mas com aspectos similares. O gorilão albino construiu uma boa carreira no pro-wrestling (o que alguns conhecem aqui no Brasil como telecatch) quando lutou na WWE, maior empresa no ramo. Lesnar entrou no MMA com uma legião de pessoas querendo vê-lo: fãs de pro-wrestling que queriam vê-lo bem sucedido, fãs de MMA que queriam vê-lo bem sucedido e fãs de MMA e pro-wrestling que queriam ver ele se fodendo até não poder mais. Torcendo a favor ou torcendo contra, a questão é que todos queriam ver Lesnar lutando. Isso o transformou em uma máquina de fazer dinheiro, logo o UFC passou a mão nele. Com um cartel de duas vitórias e uma derrota, Lesnar ganhou a chance pelo título. Pra mim, esse foi um dos maiores absurdos da história do MMA. Como um lutador estreante, com duas vitórias e uma derrota na carreira, ganha a oportunidade de disputar o cinturão do maior evento de MMA do mundo? É algo que não faz sentido nenhum na minha cabeça, quando consideramos o esporte, mas algo genial considerando o dinheiro. Lesnar acabou se tornando o maior vendedor de PPV da história do UFC, e parte do sucesso do evento está sobre os ombros do gorilão. Diferente de Sonnen, Lesnar mostrou ser valente no octógono e conseguiu alguns resultados surpreendentes, mas não tem como negar que sua escalada pelo cinturão foi facilitada ao extremo.

Jon Fitch: muita técnica + muita garra = pouco dinheiro.

Em contrapartida, temos aqueles excelentes lutadores que não possuem carisma. Enquanto Lesnar precisou de apenas uma derrota e uma vitória dentro do UFC para ganhar a chance pelo cinturão (e mais uma vitória inexpressiva em outro evento antes), Jon Fitch precisou de 16 vitórias seguidas para conseguir brigar pelo cinturão dos meio-médios. Dessas 16 vitórias, oito delas foram dentro do UFC e até aquele momento, era a maior sequência de vitórias dentro da história do evento. Tecnicamente, Jon Fitch é um dos melhores lutadores de MMA dentro do UFC, mas infelizmente ele possui o carisma de uma batata doce, logo, ele não vende grandes números de PPV. E isso é algo que acontece com muitos lutadores, com o próprio Junior Cigano, atual campeão dos pesados, foi assim. Ele precisou de sete vitórias seguidas dentro do UFC para poder ganhar a chance pelo cinturão, mesmo enfrentando lutadores duros. Mas diferente de Fitch, hoje Cigano é reconhecido pelos fãs de MMA pela ótima carreira que vem fazendo.

E os exemplos de bizarrices são vários. Brandon Vera x Shogun foi um deles. Quando Dana White disse que Brandon Vera era um possível desafiante ao cinturão caso vencesse Maurício Shogun, eu fiquei desesperado. Vera é um lutador ridículo, como poderia ser considerado um possível desafiante? Eu sou fortemente adepto da teoria que ele chupa o pinto de Dana White com frequência, porque não existe outro exemplo para sustentar a indicação de Vera como desafiante. Mas dessa vez, os fãs de MMA, aqueles que ainda apreciam o esporte, não aceitaram tal absurdo e Dana White acabou mudando de ideia, declarando que quem vencesse de maneira mais convincente entre as duas lutas principais daquele evento, ganharia uma chance. Bom, quem venceu a peleja foi Lyoto Machida, enquanto Shogun apesar da vitória, saiu duplamente derrotado.

Uma batata doce.

Mas aonde eu quero chegar, afinal? Em primeiro lugar, dá para separar os fãs de MMA em dois grandes grupos: os que apreciam o esporte e os que assistem sem entender porra nenhuma. Os que apreciam o esporte, querem ver grandes lutas, não importa se o cara é famoso ou não, tem carisma ou não; querem ver os lutadores que merecem sendo desafiantes e campeões, não os que vendem mais. E o que me preocupa, é que o segundo grupo de fãs é muito maior que o primeiro.

Em segundo lugar, o que contribuiu para a desvalorização do esporte dentro do UFC, foi o seu monopólio. Hoje não existe nenhum evento no mundo inteiro, que seja capaz de rivalizar com o UFC. Os irmãos Fertitta e Dana White conseguiram construir uma hegemonia dentro do MMA, que vem favorecendo o dinheiro, obviamente, e desfavorecendo o esporte de uma maneira deprimente. Eu sou do primeiro grupo de fãs que citei, eu quero ver o esporte, não o show. Por isso eu torço para que outros eventos apareçam, com boas lutas e que façam o UFC correr atrás do esporte novamente, porque a tendência é que a valorização do show continue, enquanto o esporte fica de lado. Eu não quero ver o MMA virar uma caricatura do boxe, que hoje pode-se contar nos dedos os lutadores que o povo quer ver, sem contar as marmeladas que acontecem umas atrás das outras.

Os rumos que o MMA vem tomando, não são alegres. Hoje falar de MMA é falar do UFC, porque todos os lutadores querem ir pra lá e é lá que ele terá a carreira reconhecida. Mas infelizmente, também é lá que o esporte está dando lugar aos negócios. Nada me deixaria mais feliz em relação ao MMA, do que o UFC investindo suas fichas nos lutadores que merecem, naqueles que lutam com garra e técnica, aqueles que não se dopam. São esses que precisam ser os preferidos dos fãs. De todos os fãs. Mas é uma realidade distante, infelizmente. E como o próprio Jon Fitch costumava dizer:

"Vence o melhor showman, não o melhor lutador."

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