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Era primavera. Apesar de ser meio-dia e o sol estar em seu zênite, uma brisa suave batia em seu rosto. Fazia dias que ele cavalgava pelos campos, observando as borboletas e as belíssimas tulipas que cresciam selvagens entre a grama, criando um esplêndido mosaico de cores vivas e fortes. O orvalho caia pelas folhas de macieiras que já davam seus saborosos frutos vermelhos. O ar puro o satisfazia, assim como o vôo das coloridas borboletas e canto jovial dos pássaros. Ele...
- Porra cara, que boiolagem é essa ai? Borboletas e flores no campo? Poxa bicho, eu sou teu personagem, mas não sacaneia né? Faz um troço mais másculo ai.
Fazia dias que não via nada além de grama. Cavalgava naquela imensidão verde, apenas pensando em sua vida desgraçada. Com as idéias apenas naquela mulher e os sentimentos focados naquele amor que se quebrou. Já não agüentava...
- Outra história de amor? Mas que merda! – falou começando a soluçar devido ao seu choro - Faz uma história de guerra ou algo assim... – ele chorava mais – Puta que pariu! Olha ai o que você faz! Me deixa sensível assim, chorando... Eu nem to com vontade de chorar, porra! – as lágrimas escorriam pela sua face, pingando pelo seu queixo pontudo – Queixo pontudo ainda por cima? Faz eu matar alguém ou algo assim, meu! Não me deixa sentimental assim!
...
Fazia dias que não via nada além de grama. Cavalgava naquela imensidão verde, apenas pensando em sua batalha perdida. Carregava apenas uma pequena trouxa com seus pertences, seu cantil de aço, seu sabre no lado esquerdo da cintura e sua carabina no lado direito da sela de seu cavalo negro.
- Assim tá melhor. Você pode... – falou e calou-se abruptamente.
Agora ele era um cavaleiro andante. Um lobo solitário. Um soldado sem exército. Ele continuava vestindo sua farda, apesar de suja e fedorenta. Sentia orgulho de ser um oficial, apesar de agora todo o seu pelotão estar morto e ele precisasse vagar pelo mundo. Seu nome era Wilhelm Württemberg von Fritz e era ...
- O que? Wilalgumacoisa Wintenurp... Que porra de nome é esse? Você decidiu de cabeça ou precisou pesquisar no Google pra escolher esse nome? E cavaleiro andante? Isso não é nome de um disco do Gabriel Pensador? Eu acho que... – o cavalo deu um solavanco e o cavaleiro mordeu a língua – Auu, cagalio!
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Agora ele era um cavaleiro andante. Um lobo solitário. Um soldado sem exército. Ele continuava vestindo sua farda, apesar de suja e fedorenta. Sentia orgulho de ser um oficial, apesar de agora todo o seu pelotão estar morto e ele precisasse vagar pelo mundo. Seu nome era Chris Dustin e era...
- Que nome de fracassado é esse? Que tipo de cara se chama Chris Dustin? Parece aquele tipo de cara que não dá certo em nada na vida. E poxa, para de pagar pau pra gringo e me dê um nome tupiniquim, pô.
Quer me deixar escrever a história?
- Eu só to tentando te ajudar. E além do mais, é minha história, não é? – ele calou-se para poupar fôlego, pois o calor o fazia suar em bicas, em cada parte de seu corpo.
Agora ele era um cavaleiro andante. Um lobo solitário. Um soldado sem exército. Ele continuava vestindo sua farda, apesar de suja e fedorenta. Sentia orgulho de ser um oficial, apesar de agora todo o seu pelotão estar morto e ele precisasse vagar pelo mundo. Seu nome era Pedro Pederneiras e era soldado do Império do Brasil.
- Tá melhorando. – o cavalo deu outro solavanco e Paulo mordeu a língua novamente – Cacete! Deixa eu falar bicho!
Vai continuar dando palpite na história ou vai me deixar escrever em paz?
- Mas é o meu futuro que está em jogo!
Justamente. Então me deixe escrever em paz, antes que eu dê um futuro bem amargo pra você. Pronto? Posso? O que eu ia escrever mesmo? Ah sim.
Pedro era um tenente que estava servindo na Revolução Farroupilha, mas os soldados imperiais haviam perdido uma pequena escaramuça perto de um bosque. Com o grande número de farroupilhas que o cercava, ele deu a ordem para que sua tropa debandasse e nisso acabou perdendo seus soldados de vista e acabou sozinho na imensidão dos pampas.
- Por que eu tenho que ser do lado perdedor?
Porque sim.
- Eu não podia ter vencido a escaramuça e estar vagando pelos pampas só por que sou fodão?
Não.
- Mas poxa! Eu bem que poderia... – um mosquito entrou em sua boca e foi direto para sua garganta. Pedro tossiu descontrolado tentando desprendem o inseto de sua goela. Pigarreou e viu-se livre. – Sacanagem... cof!
Pedro viu um imenso penhasco a sua frente. Pensou um pouco, tentando formar o mapa dos pampas em sua mente e decidir qual lado era melhor para que ele pudesse contornar a grande depressão a sua frente.
- Como eu vou decorar a geografia dos pampas?
Um oficial deve conhecer o terreno em que luta.
- Me desculpe, senhor todo poderoso pauzudão, mas eu não conheço essa porra gigantesca como a palma da minha mão!
Deveria ter colocado que você era um oficial inteligente quando comecei a escrever, mas agora é tarde demais.
- Você ainda pode escrever que eu sou casado com a Charlize Theron. O que acha?
Quieto.
Pedro ouviu o som abafado de cascos contra a grama. Olhou para trás e viu três cavaleiros de lenços vermelhos ao pescoço cavalgando em sua direção. Vinham de armas em punho, dois com sabres e um com uma lança.
- Me fodi! – praguejou – Você é um puta de um sacana, sabia?
Calado.
Pedro não havia notado os cavaleiros o dia todo. Eles estiveram em seu encalço e ele não percebera. Agora era tarde demais, eles vinham para matar. Pedro precisava enfrentá-los.
- Ô merda.
Prontamente puxou sua carabina da sela e mirou no cavaleiro com a lança. Disparou. Veio o som de trovão da arma e a fumaça cobriu seu rosto. Pedro começou a cavalgar a beira do penhasco e nisso viu que seu tiro havia acertado o farroupilha que empunha a lança. Os outros dois cavaleiros vinham rapidamente em sua direção. Ele tateou com a mão em sua trouxa de pertences, rezando para que sua pistola estivesse ali. Veio a ajuda dos céus, ele achou a pistola. Agora rezou para que estivesse carregada. Mirou e atirou. O tiro acertou bem no meio da garganta do inimigo, mas mal deu tempo de comemorar, porque o outro cavaleiro trombou-se com Pedro. A montaria de Pedro e seu inimigo ainda em cima do cavalo caíram no penhasco.
- Como é que eu me salvei dessa?
Nem Pedro sabia como havia se salvado daquilo, mas apenas agradeceu. Agora ele precisava de outro cavalo. A montaria do farroupilha morto a pistola havia galopado para longe, mas já a do soldado morto pela carabina de Pedro estava no mesmo lugar em que seu dono jazia morto. Pedro aproximou-se a passos largos.
- Eu sou muito foda mesmo, matei três caras de uma vez. Agora você podia me colocar em uma máquina do tempo que me levasse direto pra cama da Scarlet Johansson, o que acha?
Eu acho que me cansei de você.
- Como assim? Eu sou tão legal!
Pedro acariciou a cabeça do cavalo. Apoiou o pé na sela e ouviu um estrondo. Sentiu a dor. Olhou para seu peito e viu uma imensa mancha de sangue.
- Seu puto! Garp... – Pedro cuspiu sangue.
O soldado que empunhava a lança tinha uma pistola. Ele ainda estava vivo e atirou em Pedro. O tenente não acreditava que tinha caído em um erro tão banal. Por que não verificou o corpo? Tirou seu sabre da bainha e cravou-o na garganta do inimigo. Em seguida, caiu de joelhos no chão, com uma mão ao peito e outra nas costas.
- Por... por que... você tá me... ma.. matando?
Porque você é um chato de galocha.
- Seu... seu puto! – Pedro pigarreou. Cuspiu uma massa de sangue e catarro – Vai... vai... VAI TOMAR NO SEU CU!
Foi o último fôlego de Pedro. Ele morreu gritando suas últimas palavras, amaldiçoando sua vida. Ficou ali, estendido junto a suas vítimas, enquanto os cavalos pastavam inocentes na imensidão dos pampas.
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