domingo, 17 de julho de 2011

Jean Bruel, Capítulo I - O Duelo

Um conto antigo que eu fiz, mas que pretendo continuar em breve. Postarei um capítulo por semana e espero que curtam.Se gostar do começo, é só clicar em "Continue Lendo".

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Jean Bruel e Jacques Telier lutaram juntos na Itália, Flandres, Portugal e Espanha. Eram soldados de nascimento pobre que viraram oficiais e fizeram fortuna sobre a águia de Napoleão. Costumavam ser melhores amigos, dispostos a sacrificar a vida pelo outro, mas agora, naquele fim de tarde úmido, tudo o que queriam era tirar a vida um do outro.
- Vocês têm certeza que não podemos resolver isso de maneira pacífica? – indagou Alain, um amigo em comum de Jean e Jacques.
- A única maneira é cortando a garganta desse traidor sem honra. – respondeu Jean, com nojo na voz.
Alain bufou e revirou os olhos diante da teimosia. Ele não gostava de ser mediador daquela disputa porque um dos seus amigos poderia morrer, isso se os dois não falecessem, ou pior, os três poderiam ser guilhotinados, porque os duelos eram proibidos.
- Vamos lutar até a morte! – gritou Jean, com raiva em seus olhos castanhos. Ele era um sujeito de baixa estatura e gorducho, com o nariz bulboso, boca carnuda escondida pela barba castanha e uma careca lustrosa. Estava com 35 anos, apenas dois anos mais velho que seu rival Jacques. Jean sentia inveja da beleza daquele homem alto e de peito largo, com cabelos dourados bem curtos e brilhantes olhos verdes. Sentia inveja e ingratidão.
Foi Jean que conquistou a glória militar, enquanto Jacques ganhou de mão beijada. Jean tornou-se oficial antes de Jacques, então mentia nos despachos enviados a Paris, relatando feitos heróicos que Jacques realizou que na verdade nunca existiram. Foi Jean Bruel que transformou Jacques Telier em um oficial rico e estimado. Foi Bruel que criou a carreira de Telier, mas isso não impediu Jacques de dormir e entrelaçar seu corpo ao corpo de Marie Bruel, a bela esposa de Jean.
- Não vou permitir que lutem até a morte! – vociferou Alain – Ambos são meus amigos e não os quero mortos.
- Perdedor deixa a França sem nada. – Jacques falou, dando um sorriso e revelando os dentes extremamente brancos.
- De acordo. – Jean concordou ansioso.
- Vai abrir mão de tudo o que conquistou, Jean? De tudo o que você tem? – Alain perguntou alarmado.
- Não vou perder para esse traidor de merda, Alain. – Jacques fez uma careta diante do insulto – Sou um soldado e ele um oportunista. Além do mais, tudo o que eu amava na França eu já perdi. – Jean lançou um olhar furioso para Marie, que virou o rosto e chorou em silêncio.
Jean a amava. Teria dado a sua vida por aquela mulher quinze anos mais jovem. Seus cabelos eram negros, levemente cacheados e muito brilhantes e sedosos. Não possuía marca alguma na pele branca como porcelana e seus grandes olhos azuis claros derramavam lágrimas no momento. Marie sofria com aquilo. Entregou-se a luxuria e ao encanto de Jacques Telier, mas sentia-se culpado por seu marido Jean. Aquele homem atarracado a amava de verdade e ela duvidava que Jacques pudesse amá-la de tal maneira, porém, ela sentia uma atração incontrolável por Telier, tão bonito e galante.
Jean sempre a tratou bem, dando a ela uma vida luxuosa e feliz, digna de uma rainha. Nunca levantou a voz para ela, nem mesmo quando descobriu sua traição. Jean sempre foi gentil, apesar de desajeitado com as palavras. Marie sabia que a maioria das mulheres era maltratada e não levava a vida boa que ela teve o privilégio de ter.  Isso doía. Doía não conseguir dar seu amor a quem realmente merecia.
- Já que querem assim, senhores, assim será. O primeiro a sangrar deixará a França sem os seus bens. – declarou Alain.
- E suas riquezas serão dadas ao vencedor. – acrescentou Jacques. Jean concordou balançando a cabeça.
- Espadas ou pistolas? – perguntou Alain exausto.
- Deixe que esse aproveitador escolha! – rugiu Jean, andado de um lado para o outro.
- Espadas.
- Não podemos realmente resolver isso conversando, cavalheiros? – tentou mais uma vez Alain.
- Não podemos, Alain.
- Certo Jean, como quiser. – Alain suspirou e tirou seu lenço azul do pescoço – Quando eu soltar o lenço, senhores. – os dois duelistas tiraram suas espadas das bainhas – Tolos orgulhosos. – Alain soltou o lenço – Duelem!
Jacques avançou dando uma estocada longa e Jean desviou magnificamente do golpe. Bruel golpeou o lado esquerdo de Jacques, que defendeu desesperado e atacou novamente, empurrando Jacques alguns passos. Jean girou o braço em um movimento longo, forçando Jacques a se defender. Girou de novo e de novo, empurrando Jacques mais e mais. Jean sempre esteve na frente da batalha enquanto Jacques contava vantagem para a burguesia.
- Você não é soldado, Jacques! Você não é um homem! – gritou Jean, cheio de ódio enquanto Marie soluçava vermelha de tanto chorar.
- Vou matar você, careca desgraçado!
Jacques golpeou com raiva e Jean defendeu. As lâminas se tocaram e soltaram faíscas na luz crepuscular. Jean defendeu as investidas de Jacques com perfeição. Esperou o golpe mais forte de Telier e saltou para trás, fazendo Jacques cambalear para frente e deu uma joelhada em seu peito. Queria acertar o nariz de Jacques Telier, mas calculou mal.
- Você não é nada além de um traidor desgraçado, Jacques. Eu transformei você em um oficial e o tornei rico. E como você me agradece? Dormindo com a minha mulher!
Jacques golpeou novamente e Jean apenas desviou e chutou a bunda de Jacques. Telier atacou novamente e Jean defendeu e contra atacou com um golpe vindo de baixo. Aproveitou o impulso para dar um golpe vindo de cima, que acertaria em cheio o crânio de Jacques, mas ele escorregou na grama molhada. Jacques aproveitou a brecha para passar a lâmina de sua espada nas costas do desequilibrado Jean. A camisa branca de Jean ficou vermelha, encharcada de sangue. Era o fim do duelo.
- Lhe concedo a vida Jean. – Jacques deu um sorriso vitorioso para o derrotado Jean, ajoelhado no chão molhado e sentindo o ferimento – Venci. Tirei sangue de você, mas lhe dou a sua vida.
- Você já destruiu minha vida, Jacques. – Jean respondeu soturno, com lágrimas prontas nos olhos – Eu tenho honra pra fazer o combinado. Vou embora da França. Desfrute de sua vida nova, Jacques.
- Jean! – Marie correu em sua direção e ajoelhou-se, abraçando sua cintura e chorando – Me perdoe Jean! Por favor! Eu nunca quis isso Jean! Nunca! Nunca! Eu fui uma tola, Jean, uma idiota. Você me perdoa Jean? Por favor!
- Marie... – Jean ficou sem ar. As costas doíam. Será que Marie o amava? Ele estava confuso e com o orgulho destruído. Ele queria chorar, mas não daria esse prazer a Jacques. – Não posso Marrie. Não posso. Eu amo você mais que minha vida, mulher, mas não posso conviver com isso. Adeus, minha Marie, espero vê-la novamente.
Jean Bruel ajuntou os cacos de seu orgulho estraçalhado. Apertou a mão de Alain e caminhou rumo ao seu destino de exilado. Marie chorou com dor no coração e Jacques, gargalhando de deleite caminhou em sua direção.
- Jacques? – Marie falou, soluçando – O que faço agora?
- Ganhei muitos tesouros de seu marido, Marie. Mas você não é um dos que eu quero ter. Vá viver sua vida garota.
- Jacques! O que eu vou fazer?
- Eu sei lá! Devem aceitar você em algum bordel.
Marie foi rejeitada pelos dois. Sentiu-se uma idiota. Feriu o coração de Jean e ainda o fez perder tudo o que tinha, ainda por cima Jacques a rejeitou.  Ela sentiu vontade de chorar ainda mais, mas Marie se recusou. Chega de chorar. Não seja mais uma garota boba. Marie correu em direção a Jacques, que agora conversava com Alain, e sacou a sua espada. Jacques ficou sem reação. Uma mulher veio e tirou a espada que ele carregava na bainha, era uma cena inacreditável. Marie derramava lágrimas, mas agora eram de ódio. Ela levantou a lâmina, desfigurando o belo rosto de Jacques. Alain não fez nada. Jean que ainda estava próximo, também não fez nada além de olhar. Marie cuspiu em Jacques, que berrava de dor. Olhou mais uma vez para Jean e teve esperanças que ele a chamasse para viverem juntos novamente, mas ele não o fez. Cada um seguiu o seu caminho.
Jean para o exílio. Jacques para uma vida rica sem sua beleza. E Marie com a esperança de um dia ser perdoada.

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